Millennials: aparentemente somos uma geração com tudo para vingar no mundo do trabalho e, na verdade, ouvimos isso constantemente.
Dizem-nos que somos a geração mais bem preparada de todos os tempos e que temos níveis de instrução como nenhuma outra (para um millennial ter uma licenciatura é uma obrigatoriedade e um mestrado algo cada vez mais banal). Dizem-nos que o futuro passará por dois tipos de inteligência: artificial e a emocional (ou pelas chamadas soft skills) e nós somos, sem sombra de dúvidas, uma das gerações que mais domina o mundo digital e tecnológico e também das que mais valoriza as competências interpessoais. O cenário teria na teoria tudo para ser risonho.
Mas quando nos apercebemos que 96% desta geração, que dizemos ser a mais bem preparada dos últimos tempos, afirma ser afetada pelo burnout e 75% confessa-se mentalmente exausta, percebemos que algo nos está a escapar.
A verdade é que sim, somos os mais instruídos, mas somos também a geração que mais pressão sofre para ser bem sucedida, logo desde cedo, quando entramos no mercado de trabalho (que é já uma fase da vida suficientemente stressante).
Esta pressão vem de todos os lados: dos amigos e familiares, dos nossos chefes, da excessiva concorrência entre trabalhadores e é ainda ampliada pelas redes sociais. Nelas vivemos sob os olhares do mundo (através das partilha de informação nos nossos perfis como das próprias empresas nas suas páginas) mas também temos acesso a tudo o que mundo nos diz (às informações, opiniões e vidas dos outros), incluindo dos gurus da vida que nos propõem a solução para uma vida plena, tornando tudo comparável e colocando as fasquia bastante elevada, o que, inevitavelmente, nos causa bastante stress.
Sim, é verdade que somos a geração mais digital e tecnológica dos dias de hoje, mas também somos a primeira que, devido a esta tecnologia, cada vez mais tem dificuldade em desligar do trabalho: seja porque temos o telefone da empresa com acesso ao email e quando recebemos uma notificação sentimo-nos na obrigação de ir ver ou porque o nosso chefe nos liga às 22h30 – e isto não é a exceção – não parecendo conhecer conceitos como o de horário de trabalho e de vida pessoal (que provavelmente não tem).
Isto faz com que a transposição deste stress, pressão e desgaste para casa seja quase automático, afetando toda a nossa esfera familiar e social. É quando esta transposição a estes elementos se mantém durante um longo período, que aparecem estados depressivos, de cansaço e exaustão (física e mental), que têm como consequência uma diminuição da performance laboral originando o chamado burnout, uma espécie de esgotamento relacionado com o trabalho, que na prática afeta todas as áreas da nossa vida.
Eu sei do que falo. Atualmente vivo com cansaço constante – deixei de fazer exercício, que era uma prática diária – e irritabilidade (coisas insignificantes são suficientes para me deixar a chorar – no outro dia foi por ter perdido um creme).
Também me é cada vez mais difícil ficar feliz com feitos importantes ou sentir-me satisfeita quando termino uma tarefa (o dia em que assinei a escritura da minha casa foi dos piores dias da minha vida porque tinha deixado tarefas por fazer no trabalho – e até ao dia em que escrevi estas linhas não consegui ficar feliz com este feito) e a dificuldade de concentração, também é uma constante: quando estou a tentar realizar uma tarefa lembro-me de outras 500 que tenho para fazer e não me consigo concentrar em nada.
O que te posso dizer para te ajudar a lidar com a situação?
Bem, em primeiro lugar que a culpa não é tua. Este estado de exaustão não foste tu que o criaste, mas sim uma série de fatores externos (como o excesso de trabalho, uma pressão exagerada, fraca gestão e prazos impraticáveis) e alguns internos que estão fora do teu controlo (como estratégias de gestão de emoções) que, conjugados, te levaram ao limite.
Depois, se queres evitar atingir este ponto, procura estar atento aos sintomas e, se os identificares, não os ignores: se necessário recorre a ajuda especializada assim que os primeiros sinais de alerta surgem, desde aqueles que mencionei no meu caso, mas também a outros, como por exemplo, a dificuldade em dormir.
Procura falar com as pessoas que te são próximas, especialmente porque este é um estado que irá influenciar de forma negativa as tuas relações, e é importante que elas entendam que algo não está bem contigo; faz exercício físico (apesar de não te apetecer), pois as hormonas que esta prática liberta funcionam quase como “antidepressivos naturais” que te vão ajudar a estar mais animado/a; e (porque nunca é demais reforçar), procura ajuda profissional!
Quanto ao resto, claro que é importante que este seja um tema prioritário junto das empresas e, especialmente, por parte das chefias, mas parte também de ti tentares fazer esta mudança: assume que não consegues mais, que estás cansado e que tens demasiado trabalho, fala.
E nunca te esqueças: não estás sozinho.
Artigo escrito em março de 2021