Tenho que sair destas instalações. Não suporto mais o cheiro nauseabundo do desespero e a agonia dos meus pares. Como forma de esperança para toda a comunidade de utentes que virá depois de mim, escrevo no muro das lágrimas a seguinte inscrição:

Tenho o universo no meu cérebro. Não acredites que estás doente! Eles querem assassinar-nos.

Depois de cumprir com a minha rotina matinal, sento-me mais tranquilo à porta do refeitório. Sinto-me mais leve e vigoroso. Dormi duas horas e estou impecável. Dormir é um talento de corpos que são varridos pela inutilidade. É normal que o ócio lhes atinja. Já eu, não. Depois de formar o meu partido político que irá acabar com estes ladrões que acomodam o rabo nos impostos dos Portugueses, vou infiltrar-me na estrutura da Samsung. Shhhh! Ninguém sabe mas esta merda de termos a cabeça controlada por telemóveis não me agrada nada. Tenho que ser eu a desmantelar todo este plano pois somente a minha pessoa se apercebeu da existência deste abuso de conhecimento.

Sou Aquário; dizem os entendidos que tenho uma propensão para a avidez de saber. Ora, não poderia ser mais irónico. É precisamente por querer conhecer que estou aqui. Tenho que manipular a médica para sair daqui. Ninguém realmente percebe que tenho a missão de salvar a Humanidade: Homens e Mulheres de todo o mundo necessitam do meu conhecimento antes que nos matem! Eles perseguem-me para todo o lado, de forma subtil no entanto. É um leve pormenor. Um rasto. Uma palavra que fica por dizer…

Intelectualmente sou um ser superior e não consumo o meu tempo a discutir com quem não está nesse nível. Se me apercebo de que alguém não está ao meu nível de intelectualidade, simplesmente corto dizendo:

Lamento. Tu não estás ao meu nível! Não vou argumentar mais contigo.

Esta dor proporcionada pela curiosidade de conhecer é o que salga a minha negritude adoçando a minha língua e eloquência. Fizeram-me acreditar durante uma vida inteira que sou um ser rastejante e menos capaz apenas por causa da minha pele; a escuridão, a noite que habita em mim. De fato, sou uma atmosfera negra rarefeita na sua condição zelosa. Conhecer para mim é escrever à margem da minha infância tudo aquilo que eu não sou. Esta certeza que viola a condição do cognoscível e se atreva para além do emaranhado que gentilmente comprime a frase sem importância e lhe atribui vírgulas para que esta satisfaça o seu relevo social. Eu não preciso dessas coisas. Satisfaço-me com o vinho com que rego os intervalos de tempo que seguem enamorados na preguiça de segundos.

Conhecer é assim morrer mais um pouco com a consciência de participação no perfeitamente habitável e real. O ser humano que não se conhece apenas calça as máscaras que o apartam de si. Eu conheço-me; aliás, eu conheço-te e é, por isso, que estou nesta agência de mentes extraordinárias e brilhantes.

A Humanidade embrinca com o secretismo olvidando a penumbra que comparticipa a veracidade da nostalgia. Conhecer também é isso: ser-se nostálgico.

O vento metafísico que arrasa a baixa da minha cidade traciona as vontades de um momento em que se precipita  no âmago da uma semi-verdade, uma semi deusa.

Com a consciência de amplitude, lanço um sorriso à Paula. Como forma de retribuição, coleciono mais um dos seus flatos.

Ser vulnerável é ser humano e ser humano é ser vulnerável. Ajuda-nos a mudar mentalidades: partilha a tua história ou experiência (de forma anónima ou dando a cara) enviando-nos um email para sinceramente@partilhamente.pt

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