“Não sai do quarto, nem está com amigos”, “é preguiçoso e passa o dia sem fazer nada” e “parece que anda sempre triste” são afirmações recorrentes de alguns pais com filhos na adolescência.
Não é de estranhar. Apesar de muitas vezes escondida, a tristeza é um sentimento comum a todos nós e os adolescentes não são exceção, muito pelo contrário: grande parte descreve não só momentos de tristeza mas também momentos depressivos de curta duração.
Dados de 2018 – publicados no estudo “Health Behaviour in School-aged children” e incluídos no relatório publicado em 2019 pelo CNS (conselho nacional de saúde) – demonstram que, apesar de a maioria dos alunos das escolas portuguesas do 6, 8º e 10º anos se considerar feliz:
- 9,2% confessa sentir-se triste quase todos os dias e 5,9% revela tristeza extrema (os valores mais altos algumas vez reportados nas várias edições do estudo)
- 26,2% referiu que nunca ou quase nunca se sentia confiante nas suas capacidades para lidar com problemas pessoais
Na verdade, a adolescência é uma fase da vida onde as mudanças de humor são muito frequentes, sendo até mais constantes do que o humor estável e contínuo, o que pode levar a confundir tristeza com depressão. No entanto, a depressão vai muito para além das questões hormonais ou de oscilação de humor.
Então como podem os pais saber se esse estado emocional é apenas consequência da chamada ‘fase do armário’ – como muitos a gostam de apelidar -, típica da adolescência, ou se é resultado de algo mais grave, para o qual será necessário acompanhamento de um profissional de saúde mental?
Por outras palavras, como podem os pais perceber se o seu filho está apenas triste ou com uma depressão?
Como vimos anteriormente, a tristeza é um sentimento conhecido por todos. Sentir ou deixar espaço para a tristeza é, inclusivamente, necessário para uma mente saudável, visto que ninguém pode deixar de estar triste. Assim, por vezes o problema não está em sentir-se triste, mas em não se permitir viver este sentimento, tendo necessidade de fugir ou camuflá-lo. É esta dificuldade que pode levar ao adoecer psicológico.
Quando este adoecer tem como consequência uma depressão, este estado vai muito para além das questões hormonais ou de oscilação de humor. Ao contrário da tristeza que é transitória, não durando mais do que algumas horas ou dias, na depressão existe um padrão duradouro e persistente, que se mantém, no mínimo, durante mais de 2 semanas (mesmo que com flutuações).
Para além disto, se é verdade que tal como na tristeza as situações depressivas também podem ser reativas à realidade, ou seja, situações em que a causa externa que a originou é identificada, muitas vezes essa causa não é possível de encontrar a ‘olho nu’. E há uma explicação para isso: muitas depressões têm raízes em situações ocorridas na infância, altura em que se origina um conflito e tensão interna, de forma aparentemente silenciosa, podendo manifestar-se apenas anos mais tarde, já na adolescência ou idade adulta.
Por último, ao contrário do que acontece na tristeza, um adolescente em depressão tem uma autoestima frágil, existindo um sentimento de falta e de falha do ponto de vista afetivo, tendo um impacto no dia-a-dia dos adolescentes, principalmente na produtividade e bem-estar, nos mais diversos contextos (na escola, em casa, relações sociais e no relacionamento consigo próprio, entre muitos outros).
Quem vê caras não vê depressões
“Mas ele é sempre tão divertido, não parecia nada estar deprimido” “deprimido como se está sempre aos gritos?!”
Apesar de tudo o que aqui foi mencionado, é preciso ter em consideração que os adolescentes podem dar sinais da sua depressão de uma forma diferente dos adultos, podendo adotar uma postura hostil, fechada, inibida e por vezes, aparentemente indiferente àquilo que o rodeia, camuflando o seu problema e raramente admitindo, de livre e espontânea vontade, estar deprimido.
Assim, se tem um filho adolescente, não fique à espera que ele tome a iniciativa de procurar a sua compreensão e conforto: esteja atento aos possíveis sintomas e sinais que ele lhe dá, sabendo que há uma grande probabilidade do seu filho recusar essa ajuda. Contudo é importante que tenha consciência que, por vezes, a rejeição por parte do adolescente é na verdade um pedido de ajuda.
A depressão é um problema sério, que quando ignorado pode ter consequências graves e não uma fraqueza que possa ser ultrapassada apenas com força de vontade. Se o seu filho está deprimido, procure a ajuda de um profissional de saúde mental para uma intervenção psicoterapêutica.