Nos últimos tempos ouvimos falar de morte e de doença diariamente. Com a situação da pandemia chega a ser banal ouvir dizer que morreram mais 200 pessoas, pessoas essas que se transformam em números, o que pode levar a uma sensação de dessensibilização em relação à morte. Mas por trás de cada um destes números, está uma pessoa e uma família. Sabemos que para os adultos, a perda pode ser extremamente difícil. E para as crianças?
As crianças aprendem desde cedo que a perda existe. São confrontadas com situações de mortes nos desenhos animados, nas histórias, e adoram, pois estas vão ao encontro dos seus sentimentos e medos mais profundos e perturbadores. Também a perda de um animal de estimação pode ser extremamente perturbadora por as crianças estarem emocionalmente ligadas a ele.
Às vezes as pessoas têm ideia de que as crianças não percebem o que se está a passar por serem muito pequeninas, mas a verdade é que a morte é vista de forma diferente consoante a idade.
Até aos 5 anos as crianças relacionam a morte com um momento de tristeza, porque é assim que lhes é apresentada pelos adultos. Por não terem ainda adquirido o conceito da irreversibilidade, é natural que quando lhes é dada a notícia da morte de alguém , como “o avô morreu”, as crianças ouçam mas passado um tempo perguntem “então e quando é que o avô volta?”
Entre os 5 e os 9 anos a criança vai começando a adquirir o conceito de irreversibilidade e a morte passa a ser encarada com um carácter mais permanente. As crianças têm muitas questões sobre o destino de quem morre e começam a percecionar a morte como o cessar de funções biológicas.
Nesta altura, e até por volta dos 7 anos, a criança encontra-se na fase do pensamento mágico, o que faz com que esta sinta que pode modificar o ambiente exterior através de seus próprios pensamentos. Por exemplo, pode pensar que consegue evitar a morte através das suas boas ações, ou que se alguém morreu, ao ser muito boazinha, fará com que a pessoa ressuscite. Isto também acontece, por exemplo, com uma criança que tem ciúmes do irmão e deseja que o irmão se magoe. Se tal acontecer a criança sente que foi ela que o provocou.
Dos 8/9 anos aos 12: É só partir dos 8/9 anos, que a morte começa a adquirir, para a criança, um carácter de permanência e irreversibilidade e a ser encarada como um fenómeno universal e comum a todos os seres vivos. Nesta fase as crianças ficam frequentemente intrigadas com a morte e expressam a dor de forma semelhante aos adultos. No entanto, é só a partir dos 12 anos que a criança consegue entender completamente todo o processo.
Assim, é importante termos em conta a idade da criança, para percebermos como as crianças podem estar a viver o processo de luto. Devemos também respeitar a gravidade do acontecimento para a criança, reconhecendo o sofrimento que uma perda provoca e, falando com ela, ao seu ritmo, estando disponível para responder às possíveis questões que possam surgir. no tempo da criança.
Se o fizermos, estaremos a ajudar a criança a lidar com a perda e, com dor que esta provoca, de uma forma saudável, algo que poderá influenciar a forma como a mesma irá lidar com os processos de luto na fase adulta.