Eu desconfiava do que se tratava. Conhecia os sintomas, tinha-os estudado mas, mesmo assim, não queria acreditar que isto me estava a acontecer. 

Não sei qual foi o ponto em que reconheci que precisava de ajuda e da compreensão de todos para conseguir lidar com tudo o que se estava a passar no meu dia-a-dia, mas sei que o fiz e isso foi o passo mais importante que tomei nesta minha batalha.

Apesar de ser algo relacionado com o trabalho, não existe horário laboral para sentir todo o turbilhão de emoções e pensamentos que o burnout provoca. Infelizmente este não respeita horários de trabalho nem feriados religiosos e esta agitação interior não funcionava apenas das 09h às 18h (na verdade esta hora de saída até era a exceção).

Domingo a meio da tarde já o meu coração começava a acelerar, já não prestava atenção aos que me rodeavam e a minha cabeça ficava a mil só de pensar em tudo o que teria para fazer e lidar no dia seguinte. Imaginava o que podia ter feito de errado, os gritos de represália, as chantagens psicológicas e os atestados de estupidez e burrice.

Sabia que não queria isto para mim, mas o medo era demasiado grande. Sabia que devia responder, mas o medo paralisava-me. Sabia que devia agir, mas não conseguia… e os meus amigos e familiares faziam questão de me recordar disso.  Claro que a intenção era boa, mas na verdade só me faziam sentir ainda pior por não conseguir tomar uma atitude. Era como se a culpa do que estava a acontecer fosse minha e eu ainda estivesse a ajudar para que a situação continuasse, como se estivesse a “pedi-las”. 

As minhas noites eram mal dormidas, os momentos de convívio não eram aproveitados, a minha vontade de sair de casa era nula, o meu telemóvel tornou-se no meu inimigo nº1 e o meu sorriso desapareceu. Desconfiava do que se tratava, mas tudo mudou quando ouvi a minha médica dizer

“Marta, está com um início de burnout”… tornou-se oficial.

Foi aí que decidi pedir ajuda e começar a encarar o problema de outra forma: voltei para o psicólogo, comecei a andar com calmantes SOS dentro da mala e, mais tarde, vieram os antidepressivos e os comprimidos para dormir. Eu sabia que era apenas temporário e que esta medicação era uma ajuda para eu conseguir sobreviver ao cenário de destruição pessoal onde vivia diariamente, mas mesmo assim custou-me começar a tomá-los. Custou-me que me estivessem a fazer mal e eu nada conseguisse fazer para me proteger e salvar. Custou-me ver o mal que o meu estado estava a fazer às pessoas à minha volta.

Felizmente, muitas histórias tristes têm um final feliz e esta está a terminar para mim. A minha busca de mais de um ano por um novo desafio profissional chegou ao fim e entreguei a minha tão desejada carta de demissão!

No momento em que o fiz, foi como se um peso tivesse saído de cima de mim, como se a Marta de quem eu aprendi gostar, com todas as suas qualidades, contradições e defeitos estivesse finalmente de volta. 

Ser vulnerável é ser humano e ser humano é ser vulnerável. Ajuda-nos a mudar mentalidades: partilha a tua história ou experiência (de forma anónima ou dando a cara) enviando-nos um email para sinceramente@partilhamente.pt

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