Todos os dias milhares de pessoas atravessam fronteiras para viver noutros países em busca de melhores condições de vida, muitas delas fugindo de guerras ou de perseguições religiosas, políticas e étnicas. A adaptação ao país de acolhimento, exige um esforço psíquico redobrado, já que a chegada a uma nova realidade é sempre desafiante, implicando a vivência de um processo de habituação a novos códigos culturais e visões do mundo frequentemente diferentes daquelas a que estavam habituadas.
São muitos os desafios com que um imigrante se depara à chegada a um novo país: desde a dificuldade em arranjar emprego (e, quando arranjam, são muitas vezes precários), às burocracias que atrasam e dificultam a obtenção de um visto de residência, até à necessidade de aprender uma nova língua e adaptar-se aos hábitos culturais do país.
Todas estas variáveis tendem a dificultar a integração da maioria dos imigrantes na sociedade. No entanto, há um desafio psíquico que muitos imigrantes enfrentam, que talvez seja ainda mais impactante – por ser também mais silencioso e menos visível – do que os mencionados acima: a solidão.
Esta é uma das razões principais pelas quais os imigrantes procuram apoio psicológico, ainda que muitas das vezes não o saibam. Apenas sabem que sentem uma angústia muito grande, que se traduz muitas vezes em depressões e ansiedades, mas sem conseguir identificar o que a despoletou.
A verdade é que, como tantas vezes acontece em terapia, a forma de chegarmos à causa de um sintoma passa por encontrarmos a verdadeira razão para esse ter vindo ao de cima. Para isso é necessário sabermos como é que essa pessoa se organiza em termos estruturais, internamente e externamente, ou seja, como é que essa pessoa se vê e qual é a sua história, quais são os seus hábitos e o seu dia-a-dia. Invariavelmente, vemos que os imigrantes que passam muito tempo sozinhos e com poucas relações humanas, vivem com uma constante sensação de desamparo e tendem a ter uma saúde mental mais debilitada.
As consequências do sentimento de solidão e desamparo, podem levar o sujeito a sentir-se deslocado, “suspenso entre dois mundos” e com uma identidade difusa em consequência do sentimento de não pertença. Este “viver à margem”, ou à deriva dos acontecimentos, pode atrofiar a capacidade de escolher de forma consciente, fazendo com que exista um maior risco de entrarem numa espiral de repetição, evitando relacionar-se e tendo dias sempre iguais, sem risco, nem novidade, o que os impede de se adaptarem ao novo contexto, aumentando o sentimento de marginalização.
Por outro lado, também é comum optarem por um mecanismo de fuga à realidade que os deixa vulneráveis ao consumo de substâncias, aumentando a probabilidade de se tornarem violentos e/ou estabelecerem relações abusivas. Em casos extremos, podem até ter pensamentos suicidas e chegar mesmo a concretizá-los.
Mas porque têm os imigrantes maior probabilidade de viver à margem?
Como Lechler explica em imigração e saúde mental, o imigrante tem de viver, simultaneamente, uma série de lutos, e muitas vezes sem preparação prévia: a este processo Lechler designa-se de síndrome do imigrante. Ao emigrar, não é apenas o seu país e a sua cultura que ficam para trás, mas também familiares, amigos, a posição social e, por vezes, até a sensação de segurança.
Para ultrapassar este período de luto, o imigrante poderá recorrer a um psicólogo transcultural, que o irá ajudar a encontrar significado e aceitar as experiências de perda, integrando a experiência de forma transformadora para contribuir para uma melhoria da saúde mental e emocional.
Para além disto, é também crucial que as instâncias responsáveis pela integração de imigrantes criem condições para que estes tenham uma rede de apoio social que lhes abra perspetivas de começarem a ter uma vida mais saudável e equilibrada, no novo país de acolhimento.