Quantas vezes não temos a tentação de proteger as crianças de tudo o que de mal lhes possa acontecer? Quantas vezes optamos por remediar rapidamente os seus problemas e resolvê-los por elas ou até por dizer uma “mentirinha piedosa” para evitar que sofram

A resposta é cada vez mais: E qual é o problema? Afinal “só queremos o melhor para os nossos filhos”, ouço muitas vezes.

O problema é que, ao contrário do que muitos pais pensam, proteger os seus filhos do sofrimento nem sempre é o melhor para eles. Na verdade,  as crianças devem enfrentar estes desafios. Se sistematicamente os pais e educadores resolvem os problemas por elas ou mentem para que elas não sofram, não as estão a deixar viver, nem a prepará-las para a vida adulta.

Ao terem pais superprotetores, as crianças correm o risco de não aprenderem a lidar com as frustrações e dúvidas normais do dia-a-dia, nem desenvolverem competências emocionais essenciais para evitar que sofram de problemas emocionais no futuro e que adotem comportamentos antissociais e de exclusão. 

Assim, é crucial que deixemos as nossas crianças sentirem e expressarem a suas emoções livremente, mesmo as ‘teoricamente mais difíceis‘ como a tristeza e o medo. É preciso normalizar estes sentimentos desde cedo – a partir dos 3 anos as crianças já são perfeitamente capazes de reconhecer as suas próprias emoções – explicando-lhes que existem 4 emoções base e que é perfeitamente natural e saudável que por vezes se sintam felizes, tristes, assustadas ou mesmo zangadas. 

Workshop: Comunicação Eficaz

Pais e educadores devem ajudá-las a reconhecer quando esses sentimentos vêm ao de cima, a pensarem sobre o que estão a sentir e até a compreender a reação física inerente à emoção sentida. Tudo isto deve ser encarado com normalidade por quem educa, para que também o possa ser pela criança:

“É normal eu ficar triste quando perdi um brinquedo de que gosto”; “é normal eu ficar assustado quando me perco da mãe no supermercado”. 

É esta normalização do sentimento que permite que, à posteriori, se ajude a criança a encontrar uma solução para o que está a sentir, de forma a resolver o mal-estar, sem ficar preso no problema e na emoção.

No final, quando a criança encontra uma forma de resolver a questão, reforce-a, mostrando que esta foi capaz e que será capaz de repetir o processo sempre que necessite. Desta forma incrementa também a sua autoestima. 

Ferramentas para as crianças aprenderem a expressar e gerir as suas emoções

Como em tudo o que envolve a educação das crianças, também na gestão das emoções devemos ser modelos. Devemos gerir as nossas emoções de forma equilibrada, com autocontrolo, de modo a que as crianças nos imitem. E como podemos fazer isto? Podemos, por exemplo, mostrar-nos tristes, explicar porque estamos assim e o que faremos para ultrapassar este momento. Podemos e devemos também explicar-lhes que não precisam de guardar as emoções para si e que podem procurar ajuda, seja de adultos como dos seus próprios amigos.  

Outra ferramenta muito eficaz são os jogos, que permitem às crianças perceberem as alterações físicas inerentes a cada emoção. Pode ser através de um boneco, de um desenho ou mesmo de um espelho. Podemos ver que a expressão dos olhos muda, com a ajuda das sobrancelhas, a postura corporal, as mãos, que podem estar abertas ou até com punhos cerrados, entre outras.

Devemos também educar a criança de forma a que seja capaz de se colocar no lugar do outro, a criar empatia pelo que o outro está a sentir, ajudando-as não só a compreender, como a normalizar a emoção. 

Nunca se esqueça: o ser humano é emocional por natureza, logo, não devemos educá-lo a reprimir emoções. Temos que encontrar um equilíbrio entre a razão e a emoção e ajudar as crianças a fazê-lo também desde cedo.